segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Voe em paz!

Voe em paz!


Pensei que tivesses morrido
Qual não foi a minha surpresa ao te olhar caminhando em minha direção
Difícil saber o que esperar de quem já não se espera mais nada
Mas este belo fantasma caminhava até mim, repetindo o meu nome
Surpresa, indignação, indiferença, qual seria a minha expressão ao cruzar inesperadamente pelo caminho de quem já habitava ao abismo?
Será que o acaso a trouxe até mim para devolver minha inocência, ilusão e ternura?
Como? Se tu já não as tinhas. Estavam a muito esmagadas sob os teus pés
Não que o tenha feito por maldade, mas pela imaturidade que gerou a indiferença às necessidades que não fossem as tuas próprias
Justo ela, que sempre julgou ter superado
Este vírus talvez tenha me infectado também, abalando a minha fé
Mas como culpá-la da minha própria imprudência?
Não posso acusá-la das correntes que minha obstinação me impingiu
Pra minha surpresa o fantasma não queria o alívio da sua consciência para em seguida retornar ao abismo
Pareceu-me que queria a liberdade dos que são capazes de se arrepender
Buscavas a leveza para voar pra outros lugares
A tal leveza que só encontramos nos olhos de quem já ferimos
Seja livre para voar, já não és mais um fantasma
És o depositário imaginário das alegrias, frustrações e tristezas que não se apagam
És a experiência inevitável de um amor doído e impossível
És o espelho que se quebrou junto às minhas ilusões, mas não antes de revelar quem eu sou
O meu bom e o meu mau
Voe, levando de uma vez por todas as palavras que eu queria ter dito
Jogue no oceano as minhas mágoas
Voe em paz, sei que não és mais uma sombra, mas um humano melhor.