quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Demasiado humano




“A religião convenceu as pessoas de que há um homem invisível no céu, que vigia tudo o que você faz, todos os minutos de todos os dias. E o homem invisível tem uma lista especial de dez coisas que ele não quer que você faça, e se você fizer qualquer dessas coisas, ele tem um lugar especial, cheio de fogo, fumaça, queimaduras, torturas e angústia para o qual vai mandá-lo para viver, sofrer, arder, sufocar, gritar, chorar por toda a eternidade, até o fim dos tempos. Mas Ele o ama. Ele o ama e precisa de dinheiro!”

Ouvi esse discurso no documentário “Zeitgeist” (termo alemão que significa “o espírito do tempo”) e já adianto que não concordo com ele.

A crítica não é nova e tenta através de uma descrição rasa e imprecisa da figura de Deus demonstrar a irracionalidade de crer em um ser assim.
Existe uma idéia, que encontra ressonância até mesmo no imaginário de muitos cristãos, de que Deus é uma figura distante que caprichosamente estabeleceu algumas leis, as quais não podemos de forma alguma descumprir sob pena de uma terrível condenação. Nada mais equivocado.

Os dez mandamentos (Êxodo 20. 1 a 17), referidos na frase supracitada, não são determinações advindas de um ser egocêntrico e sádico a espera de um deslize humano.Pelo contrário, são ordenanças que visam proteger as pessoas de condutas destrutivas umas para com as outras. Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho contra o teu próximo, são apenas alguns dos exemplos.

Em seguida o amor de Deus é questionado, o orador ironiza o fato de um ser que diz amar a todos ter uma série de castigos preparados a aqueles que afrontam as suas determinações. Tudo isso carrega a idéia de um Deus distante, ilógico e criado como um instrumento de dominação da religião. Contudo, tal comentário só pode advir de alguém que jamais pretendeu fazer uma crítica justa e embasada por fatos concretos.

O homem sempre carregou consigo a idéia de que poderia por si só transformar a sua essência, transformar o mundo e tudo que nele há. Ao longo dos séculos criaram-se utopias de paraísos perdidos, movimentos políticos, filosofias e saberes religiosos e seculares, tudo isso buscando vencer as velhas mazelas que sempre acompanharam a espécie humana.

Gerações inteiras se perderam achando que estavam na luta por um mundo melhor.Derrubaram-se regimes políticos e levantaram-se outros que pouco ou nada avançaram (quando não retrocederam). Dividiu-se o mundo em dois blocos políticos e esperava-se que quando um deles finalmente triunfa-se o mundo seria melhor e quando isso aconteceu ficou claro que nada mudaria. Religiões levantam-se, messias políticos e religiosos apontam caminhos que não chegam a lugar nenhum. Movimentos se iniciam cheios de esperança na busca de varrer todos os preconceitos e intolerâncias para longe e passam, como vento, expondo contradições, desilusões, overdoses e mais uma vez nada muda.

Nenhuma crença explicou e compreendeu tão profundamente a essência do homem como o Cristianismo o fez. Nenhuma outra fé foi capaz de expor tão visceralmente as imperfeições humanas. O Cristianismo genuíno não vem como uma espada a cortar cabeças imperfeitas, pelo contrário, parece vir como a voz suave que diz: “eu te entendo”.

A idéia de um Deus que se fez homem, identificando-se com todas as fraquezas do homem, tentações, necessidades físicas, sofrendo perseguição, deboche e violência, mostra que o “homem invisível” morando em uma nuvem distante não se parece com a divindade pregada no Cristianismo.

A mensagem, portanto, não é “ande na linha ou vou te castigar eternamente” e sim “eu entendo as suas imperfeições, mas você pode supri-las com o seu criador”. Deus, de fato, ama aos homens e não está em uma nuvem a julgar, Ele está ao lado de cada um, mas só se relacionará de modo significativo com Ele quem assim o permitir. Relacionamentos verdadeiros, só existem quando há liberdade para se optar por se estar nele e Deus compreende isso, de modo que não vai ultrapassar essa linha.

O Cristianismo é humano, demasiado humano (parafraseando o filósofo) e por isso mesmo tem como protagonista o criador da humanidade, que a ama, respeita e não acusa, mas redime, liberta e nos possibilita vivermos como homens de verdade, que não são menos homens por serem necessitados de alguém que os complete e salve do mal e suas conseqüências.

Quanto ao Dinheiro, não vou perder tempo com isso. No entanto, afirmo que Deus não precisa de dinheiro, mas o homem precisa.Portanto, tome cuidado com quem lhe pede e mais ainda com os seus motivos para dar ou não dar.

5 comentários:

  1. Fala Vaan! Legal seu blog, não sabia que vc tbm tinha... vo passar mais por aqui, abraço!

    ResponderExcluir
  2. O problema do mundo não é o dinheiro, mas o amor à ele!
    Abs

    ResponderExcluir
  3. Falou tudo Van!!!
    achei sensacional!c tem o dom d escrever hein hehehe...
    Bjooss

    ResponderExcluir
  4. Você precisa postar mais!

    ResponderExcluir
  5. Diante do texto, gostaria de deixar três pensamentos para reflexão:

    "Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, e depois perdem o dinheiro para a recuperar. Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal forma que acabam por nem viver no presente nem no futuro.
    Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido..."
    (Confúcio)

    E Aristóteles, que aponta a importância de se determinar uma finalidade na jornada da vida. Conforme prova-se no texto, não há maior sabedoria do que a que direciona a vida e as realizações para o Amor que Deus nos oferece e nele quer que andemos, para o nosso próprio bem, assim como um Pai disposto a ensinar o filho que humildemente reconhece sua dependência NELE:

    "Na realidade, viver como um homem significa escolher um objetivo e dirigir-se para ele com toda a conduta, pois não ordenar a vida a um fim é sinal de grande estupidez."

    E que jamais esqueçamos de que:
    A vida é a infância da nossa imortalidade.
    (Goethe)

    Bjos Van !

    ResponderExcluir